quarta-feira, 5 de julho de 2017

Já que o canal 2 está a passar animação japonesa ao fim-de-semana


Nos filmes do Miyazaki, bem como nos do Isao Takahata, há quase sempre algum momento em que uma tarefa manual é representada com detalhe. Não só isso, mas em quase todos desempenhar bem um tarefa manual faz o enredo andar para a frente. Falo de coisas como limpar, cozinhar, ou até fazer contas de matemática à mão, executadas de uma forma tão natural e optimizada que parecem feitas por um robot programado. Não poucas
vezes, o valor do desenrascanço tambem é louvado.
Embora um desenho animado seja inevitavelmente fantasioso na forma não-fotográfica como representa a realidade, não quer dizer que o seja na forma como a descreve, nas suas dinâmicas, possibilidades, intervenientes. No caso destes criadores japoneses, creio mesmo que nos despertam para a realidade como ela é, nem que para isso recorram aos deuses da tradição religiosa japonesa para personangens. Eles representam algo de muito real.
Dito isto, por vezes é triste que o adepto típico destes filmes seja avesso a este lado tão importante do que estão a ver, reduzindo-os a uma experiência estética de algo completamente diferente, mas só isso, e que pouca coisa trazem de volta à sua vida. Um pouco como o fã típico do Senhor dos Anéis, que pode reduzir a sua riqueza a quase nada se se limita a coleccionar nomes e lugares totalmente diferentes da realidade do dia-a-dia.
"Alienação" é a palavra que normalmente é invocada nestes momentos. Contra isso, suponho que o remédio seja cozinhar a própria comida e limpar a própria casa. E se os houver à disposição, aprendê-lo com velhotes. Acho que isso faria o velho Miyazaki feliz.

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