segunda-feira, 31 de agosto de 2015

A vida é dura

A vida é dura ao descobrir o tempo que demoro a lavar a louça do jantar e repor alguma ordem na cozinha: exactamente um episódio dos Simpsons.
Por outro lado, porque tenho aquela coisa que permite por os programas a andar para trás, e podia estar a ver os Simpsons como se fossem dez horas quando eram na realidade dez e meia.
Também porque já lá vai um bocado, mas os meus nós dos dedos ainda ardem por ter manuseado uma pequena tira de malagueta sem luvas à prova de radiação nuclear.

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Ao ver Inside Llewin Davis

Empatizo com a solidão de Llewin e da sua arte, incompreendida no seu tempo, mas hoje totalmente aceitável. Um pouco como um físico teórico que postula a existência de um Bosão de Higgs, e pode muito bem ser visto como um louco, até que o físico experimental confirme que afinal tinha razão.
Ser fiel ao que se sabe ser bom e verdadeiro, mesmo quando isso é mal aceite pela maioria, é um valor que tem de ser apregoado nestes dias de sofismo generalizado.
No final do filme, aparece Bob Dylan a iniciar um concerto seu. Ele é o físico experimental, que - sabemos hoje - iniciaria a mudança de paradigma que daria a razão a Llewin Davis. A sua música era realmente boa. A aparição de Bob Dylan parece ser uma recompensa deixada a quem torce durante o filme por aquele protagonista cheio de defeitos, mas cuja música não podia ser ignorada.


É engraçado que depois de escrever os parágrafos acima, fui ler os comentários ao vídeo no Youtube e encontrei isto:

One reason why Llewyn Davis wasn't achieving success as a solo performer in the film was that his style was 40 years ahead of it's time- all emotion and sensitivity. Not sure who created the current taste for this type of peformance...Will Oldham? But back in the early 60's this performance would have seemed hopelessly introspective... 

+Stephen Charman Totally agree with your original point, though I wonder if there'll ever truly be a time for Davis' style. He was an artist who believed that if he put all of himself into his art he would succeed. And the final blow to that faulty (sadly) belief was Dylan.

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Ao ver Inside Llewin Davis

Não há como não sentir revolta profunda. No filme, este casting serviu para a beleza da obra do artista ser preterida por obras mil vezes inferiores por serem de artistas um pouco mais bonitos, digamos assim.



No fundo, faz lembrar as conversas que antigamente se tinham na igreja sobre a música e louvor. Na troca de argumentos, para certas opiniões sobreviverem, era sempre necessário encontrar beleza onde só havia fealdade, desinspiração, e até fingimento. São as pessoas que chutariam Llewin Davis para um canto para poder ouvir melhor o dueto Jim and Jean, ou o solo de Troy Nelson.
É o dono do bar, Pappi, que explica. Não é tanto que a música importe; as pessoas só vão ouvi-los porque querem sexo com a Jean, ou até com Jim.

terça-feira, 25 de agosto de 2015

De resto

De resto, é este personagem que vai atraindo a minha atenção musical nos últimos tempos.

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Alegria infantil em abrir um embrulho

Há dias, senti a emoção já quase esquecida da alegria infantil em abrir um embrulho. Era o livro O Homem Eterno (Everlasting Man) do G. K. Chesterton, que tinha mandado vir pelo correio. Já estava há anos para o fazer, mas desta é que foi. Sentir isto é raro em mim por pelo menos duas razões que me consigo lembrar.
Uma é a minha relação com o dinheiro - detesto gastá-lo. Pelo menos em compras além das despesas correntes, fico sempre com medo de ter comprado uma inutilidade que vai encher mais a casa e esvaziar mais a conta, num duplo prejuízo financeiro-espacial. Há em mim um Ebenezer Scrooge a precisar constantemente de ser domado. Mas numa compra destas, adiada há tanto tempo e de valor tão seguro, não há grandes possibilidades de arrependimento.
Outra é a satisfação que posso tirar de alguma coisa fora de mim. Qual é a experiência ou o objecto que possa antecipar com entusiasmo sem reservas? Seja pela repetição, seja pela desilusão, não sobra muito mais que isto, livros do Chesterton, do C. S. Lewis e assim.
Entre ir ver o correio, abrir o embrulho e ir para o trabalho, espreitei apenas a primeira página. E imediatamente sorri:

"Quando certa vez perguntaram a Chesterton «que livro gostaria de ter consigo se fosse um náufrago numa ilha deserta», esperando talvez uma resposta profunda e elevada como «a Bíblia» ou «a Divina Comédia», respondeu com o óbvio «um manual de construção de botes».

O que é que há aqui para não antecipar com entusiasmo?

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Primeiro o Relógio ou o Relojoeiro?

Eu gosto muito de ver o Cosmos: Odisseia no Espaço, quando apanho no National Geogaphic. Gosto mesmo, apesar da cegueira ideológica ateia de algumas ideias apresentadas, sobretudo quando alimentam a cultura popular com noções simplificadas sobre o curso da história e das ideias.
O programa que vi hoje foi sobre Newton, Halley e Hook. A tese apresentada por Neil Tyson (30:30) não tem nada de surpreendente. Antes de Newton, as pessoas viam o firmamento, com a sua ordem e padrões, como uma criação de um Relojeiro, que seria Deus. Depois das descobertas de Newton, a hipótese do Relojoeiro (a hipótese "Deus", que Tyson classifica de beco sem saída), deixa de ser necessária, já que percebemos as leis que regem o relógio. A haver Relojoeiro, será a própria gravidade.
O que fica por assinalar, é que também o próprio Tyson considera o universo um relógio - um relógio que funciona, como um relógio deve funcionar, com regras, de forma previsível. Algum tempo deveria ter sido gasto a explorar a hipótese de o firmamento não ser visto desta maneira, mas de uma forma caótica ou animizada. Numa cosmovisão dessas, que vestígio de expectativa haveria em tentar descrever o universo através de leis gerais e expressões matemáticas? Porquê pensar matematicamente sobre coisas que podiam ter personalidade - e até temperamentos irascíveis - ou ser simplesmente aleatórias? Neste episódio, Halley é retratado a ir ter com Newton cem por cento seguro de que os movimentos dos planetas em torno do Sol poderim ser determinados por leis matemáticas simples e elegantes. Mesmo apesar de Halley se descobrir privado dos conhecimentos matemáticos para dar conta do problema, acredita que alguém terá a matemática suficiente para a tarefa - esse alguém veio a ser Newton (o crente em Deus).
Então, porquê pensar no Universo enquanto Relógio, se não tivéssemos pensado antes no Relojoeiro que o criou? Num programa sobre uma mudança essencial no paradigma do pensamento, será justo ocultar esta questão básica? Não seria razoável imaginar por um bocado se uma revolução desta magnitude seria expectável noutras culturas em que o Universo não é um Relógio criado por um Relojoeiro?
Lamento ser chato, mas vou encontrando a energia para recusar acreditar em Deus da maneira que os ateus querem que acredite. Podem forçar ideias simples através da repetição, podem insistir em dizer que as religiões são essencialmente iguais, podem contar parcialmente verdades que dificilmente um leigo poderá contestar a um cientista. Uma pessoa faz o que pode, mas não é fácil. A reacção merecida seria fechar os olhos e os ouvidos a esta gente, mas a Bíblia diz para "examinar tudo e reter o bem" - ordem que o cientista médio dos dias de hoje desobedece com o maior desembaraço.

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Despedidas de solteiro de noivos evangélicos

Estive anos e anos sem me estrear nessa coisa das "despedidas de solteiro". Recentemente, fui a duas, ambas em que os noivos são cristãos evangélicos, pelo que naturalmente foram dispensadas as rotas mais naturais - da discoteca e do striptease.
Numa delas, ocorreu até a felicidade de a melhor fotografia assumir um feitio cruciforme, a saber, a brincar a uma coisa chamada flyboard.


Uma excelente assinatura para um excelente dia.

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Nortada

Já agora, dando seguimento ao primeiro post deste blog, reproduzi mesmo num instrumento a música que me chamou a atenção no filme A Teoria do Tudo, ainda que dentro das minhas limitações. É sobretudo uma coisa de mim para mim.

terça-feira, 4 de agosto de 2015

Aquecer a guerra

Não sei em que ponto estamos na Guerra Fria, mas é só para avisar: estas munições abatem tanques russos.

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Agora a sério

A sensação é sempre a mesma. Que quando começo as férias, estou finalmente no período da vida real, que se segue a um ano menos duas semanas de uma ficção medonha, sem sentido nem final feliz, nem final de nenhum tipo. Agora sim há tempo para descansar realmente, para a higiene mental, para poder ser surpreendido.
A desproporção entre o tempo de trabalho e o tempo de férias é imensa, mas naquelas duas semanas persiste a sensação que a ficção terminou, que chega de brincadeira, e que posso agora começar a sério.