segunda-feira, 26 de outubro de 2015

P's

Tenho feito umas tentativas de ir correr antes do trabalho, para melhorar a qualidade da minha saúde, porque sou tendencialmente muito sedentário.
Ao sair de casa pela manhã, ainda de noite, não tenho qualquer expectativa de desfrutar da frescura da manhã. O ar cheira mal pela manhã. A Marinha Grande é uma cidade industrial cinzenta de pessoas cansadas por fazer muitas horas extraordinárias. As traseiras do meu prédio são assombradas pelo ruídos de milhões de garrafas partidas a deslizar de um lado para o outro na Barbosa e Almeida (esta paisagem dominada por uma fábrica faz lembrar o animé Furi Kuri com a sua grande fábrica em forma de ferro de engomar, quem viu sabe do que falo).
Mas esta cidade é abençoada pela proximidade de São Pedro de Moel, das Paredes, da Polvoeira, da Ponte Nova e do pinhal, e por isso, a vida aqui é suportável.
Quando regresso da corrida de vinte minutos, dorido das pernas e ofegante, passo ironicamente perto do pavilhão da escola Nery Capucho onde ia aos treinos de andebol, onde fazíamos os "circuitos de potência", com sprints, saltos, trampolins, flexões, abdominais e dorsais, bolas medicinais e etc. Se com dezasseis anos, um túnel que atravessasse o espaço-tempo junto ao portão da escola e deixasse espreitar-me quinze anos para o futuro, onde se veria o meu eu-presente estafado por vinte minutos de corrida, pareceria um futuro demasiado improvável, e não apenas mau, mas desprezível. Sim, era jovem com opiniões impetuosas, mas não deixava de ter uma certa razão.

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