terça-feira, 13 de outubro de 2015

Fim de licenciatura

Com este fim-de-semana passado na Igreja da Lapa, penso que terminei a minha licenciatura em Tiago Cavaco. Conheci-o enquanto músico, blogger, assinante Facebook, em pessoa, por mail, como campista, em entrevista por escrito, na rádio e na televisão, enquanto pregador convidado e pregador na sua igreja. Sempre achei que tinha de estar atento para o perceber, que isso era e é importante, já que ele dita muitas das tendências entre os evangélicos. Ouvi falar dele pela primeira vez enquanto pessoa ilustre quando ei tinha uns oito ou nove anos, num domingo à tarde em que os jovens da minha igreja pediram emprestados aos meus pais sala e leitor de vídeo para ver uma espécie de documentário sobre os H+Pos (não faço ideia de como se escreve), banda onde ele era baixista.
Ao longo dos anos, entusiasmei-me com ele quando comecei a ler o Voz do Deserto e a ouvir as suas músicas. Mostrei a outras pessoas, cristãos ou não, e comentei ideias dele ou introduzi-as como assunto de conversa. Há uns dez anos atrás, recebi avisos acerca dele,  de pessoas tais como os meus pais ou o pastor da minha igreja. Defendi-o várias vezes de outros que o atacavam por preguiça intelectual, por estranheza ou por se sentirem de alguma forma ameaçados, criticados ou inferiorizados. Hoje, julgo que quase todos os atrás referidos são amigos, admiradores à distância ou fortemente influenciados por ele. Isto seria muito mais picante com nomes, mas posso pelo menos fazer a estatística e perceber que duas mãos cheias de dedos não chegariam para os contar. Houve momentos de consagração essenciais, em certas entrevistas, ou ao receber a colaboração de certas pessoas, que quebraram as barreiras dos mais cépticos à sua aceitação.
Entretanto comecei eu próprio a deixar de lhe achar muita graça. Começou a haver mais coisas em jogo, sobretudo desde que se tornou pastor. Medir o peso dessas coisas tornou-se essencial. Hoje, tudo o que o rodeia parece uma grande brincadeira infantil que nunca mais acaba. Julgo que muito do crédito que as pessoas mais velhas lhe dão, vem de acharem que naturalmente ele é uma pessoa divertida e surpreendente, mas quando entra em acção no ministério pastoral a coisa muda, e então é a sério. Mas não muda. A tal brincadeira persiste e permeia lugares que muitos julgariam sagrados e intocáveis pela irreverência, como o louvor, a pregação ou até a oração.
Enquanto evangélico baptista, terei de me habituar a explicar às pessoas, sempre que me for solicitado, que concordando com alguns aspectos pontuais e dispersos, raramente me identifico com o que é dito nas suas aparições na imprensa. Não seria ele que eu escolheria para me representar. E que como tal, é especialmente irritante ouvi-lo a falar em nome do colectivo. "Nós" isto, "nós" aquilo - em rigor, "nós" o tanas, sobretudo se se escudar nisso para dar força às suas opiniões mais pessoais. Lembro de lhe encontrar este tique desde que lia os Animais Evangélicos, e é um atributo que parece ter permanecido até aos dias de hoje.
Penso que a sua personalidade estabilizou e que já não há motivo para um acompanhamento contínuo, sobretudo através do blog. Sinto que sei quem ele é, de onde veio e para onde vai. Pelo menos para já, quando o ouço ou leio, julgo saber onde quer chegar.
Isto é bom para ele, porque vou ter uma atitude mais limpa quando confrontado com a sua obra. Por exemplo, o que li do livro sobre casamento estava sempre a ser comparado com as memórias mais frescas que tinha do blog, não dando oportunidade ao próprio livro de receber uma crítica justa -  se é bom ou mau, bem ou mal escrito, relevante ou irrelevante, edificante ou destrutivo. Como se fosse um estrangeiro acabado de chegar ao país.
Enquanto cristão, claro que isto é-me difícil. Faço conta de me cruzar com ele em pessoa mais umas quantas vezes ao longo da vida. Também faço conta de ser simpático - aliás, como ele tem sido sempre comigo. Não faço conta de lhe fazer uma crítica ao trabalho, porque não tem nada que aturar críticas de pessoas distantes dele e do seu trabalho - mesmo que os cristãos tenham autoridade uns sobre os outros para tal intervenção. Mas desejo-lhe que ouça a crítica das pessoas próximas. E depois disto tudo, desejo não ser hipócrita.
Sei que temos uma crença em Cristo uniforme o suficiente para nos chamar-mos irmãos, e tenho de deixar que isso prevaleça como sendo de primeira importância sobre as coisas restantes. E não tenho intenções de condescender com as críticas que fiz neste texto, entre outras. Penso que será por aí. Licenciatura terminada.

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