quarta-feira, 7 de outubro de 2015

A partir de certa altura, a música mudou

A partir de certa altura, a música mudou. O que se ouvia quando eu andava na escola secundária eram coisas como Limp Bizkit, Papa Roach, Slipknot, Linkin Park, Incubus, Staind, etc, etc. Havia uma formula repetitiva e segura. Tinha ser pesado, gritado, tinha de ter asneiras, de apelar à desobediência em si mesma, tinha de falar de relacionamentos clinicamente disfuncionais (frequentemente, através da terminologia dos anjos e demónios), tinha de mostrar muita raiva para só depois mostrar que também tinha outros sentimentos. Através desta matriz simples, sabia-se o que era "bom". Pessoalmente, raras vezes gostava, e muitas vezes dava ares de esquisito ou selectivo à custa disso, mas era como se soubesse que a música podia ser muito melhor do que aquilo, mesmo sem ter grandes contra-exemplos para apresentar.

Havia ainda o domínio insuportável do hip hop comercial. Quando fui à viagem e finalistas a Lloret del Mar, julgo que ouvi mais de cem vezes In da Club, do 50 Cent.

Eu fui para a universidade em dois mil e três, e isso coincidiu com a tal mudança da música. Os vídeos mudaram, a sonoridade mudou, a roupa mudou, a figura do DJ deixou de existir nas bandas. Os assuntos das músicas mudaram radicalmente. Não só mudaram radicalmente, como o que estava para trás foi rejeitado como sendo "de mau gosto". Figuras públicas fizeram declarações a enxovalhar os Limp Bizkit, como Courtney Love (viúva do Curt Cobain que Fred Durst tem tatuado no peito) , ou baixista dos Rage Against the Machine (que seria uma das principais inspirações da banda).
Este vídeclip há-de permanecer como o registo histórico da perplexidade da fase anterior. Para perceber o sketch inicial, deve-se recorrer ao vídeo de Someday, dos Strokes.

Entretanto, é como se esta mudança tivesse deixado uma geração (a da minha idade) musicalmente orfã. Alguns ainda gostam de ir aos festivais assistir à sua "velha guarda", incapazes de gostar, no entanto, de toda a música feita depois de 2003 por essas mesmas bandas. Outros, cortaram por completo e são incapazes de elogiar aquela música enquanto música, podendo no entanto elogiá-la enquanto banda sonora da sua adolescência (da mesma maneira que olham com saudosismo para outros disparates que possam ter feito).

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