segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Primeiro o Relógio ou o Relojoeiro?

Eu gosto muito de ver o Cosmos: Odisseia no Espaço, quando apanho no National Geogaphic. Gosto mesmo, apesar da cegueira ideológica ateia de algumas ideias apresentadas, sobretudo quando alimentam a cultura popular com noções simplificadas sobre o curso da história e das ideias.
O programa que vi hoje foi sobre Newton, Halley e Hook. A tese apresentada por Neil Tyson (30:30) não tem nada de surpreendente. Antes de Newton, as pessoas viam o firmamento, com a sua ordem e padrões, como uma criação de um Relojeiro, que seria Deus. Depois das descobertas de Newton, a hipótese do Relojoeiro (a hipótese "Deus", que Tyson classifica de beco sem saída), deixa de ser necessária, já que percebemos as leis que regem o relógio. A haver Relojoeiro, será a própria gravidade.
O que fica por assinalar, é que também o próprio Tyson considera o universo um relógio - um relógio que funciona, como um relógio deve funcionar, com regras, de forma previsível. Algum tempo deveria ter sido gasto a explorar a hipótese de o firmamento não ser visto desta maneira, mas de uma forma caótica ou animizada. Numa cosmovisão dessas, que vestígio de expectativa haveria em tentar descrever o universo através de leis gerais e expressões matemáticas? Porquê pensar matematicamente sobre coisas que podiam ter personalidade - e até temperamentos irascíveis - ou ser simplesmente aleatórias? Neste episódio, Halley é retratado a ir ter com Newton cem por cento seguro de que os movimentos dos planetas em torno do Sol poderim ser determinados por leis matemáticas simples e elegantes. Mesmo apesar de Halley se descobrir privado dos conhecimentos matemáticos para dar conta do problema, acredita que alguém terá a matemática suficiente para a tarefa - esse alguém veio a ser Newton (o crente em Deus).
Então, porquê pensar no Universo enquanto Relógio, se não tivéssemos pensado antes no Relojoeiro que o criou? Num programa sobre uma mudança essencial no paradigma do pensamento, será justo ocultar esta questão básica? Não seria razoável imaginar por um bocado se uma revolução desta magnitude seria expectável noutras culturas em que o Universo não é um Relógio criado por um Relojoeiro?
Lamento ser chato, mas vou encontrando a energia para recusar acreditar em Deus da maneira que os ateus querem que acredite. Podem forçar ideias simples através da repetição, podem insistir em dizer que as religiões são essencialmente iguais, podem contar parcialmente verdades que dificilmente um leigo poderá contestar a um cientista. Uma pessoa faz o que pode, mas não é fácil. A reacção merecida seria fechar os olhos e os ouvidos a esta gente, mas a Bíblia diz para "examinar tudo e reter o bem" - ordem que o cientista médio dos dias de hoje desobedece com o maior desembaraço.

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