segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Alegria infantil em abrir um embrulho

Há dias, senti a emoção já quase esquecida da alegria infantil em abrir um embrulho. Era o livro O Homem Eterno (Everlasting Man) do G. K. Chesterton, que tinha mandado vir pelo correio. Já estava há anos para o fazer, mas desta é que foi. Sentir isto é raro em mim por pelo menos duas razões que me consigo lembrar.
Uma é a minha relação com o dinheiro - detesto gastá-lo. Pelo menos em compras além das despesas correntes, fico sempre com medo de ter comprado uma inutilidade que vai encher mais a casa e esvaziar mais a conta, num duplo prejuízo financeiro-espacial. Há em mim um Ebenezer Scrooge a precisar constantemente de ser domado. Mas numa compra destas, adiada há tanto tempo e de valor tão seguro, não há grandes possibilidades de arrependimento.
Outra é a satisfação que posso tirar de alguma coisa fora de mim. Qual é a experiência ou o objecto que possa antecipar com entusiasmo sem reservas? Seja pela repetição, seja pela desilusão, não sobra muito mais que isto, livros do Chesterton, do C. S. Lewis e assim.
Entre ir ver o correio, abrir o embrulho e ir para o trabalho, espreitei apenas a primeira página. E imediatamente sorri:

"Quando certa vez perguntaram a Chesterton «que livro gostaria de ter consigo se fosse um náufrago numa ilha deserta», esperando talvez uma resposta profunda e elevada como «a Bíblia» ou «a Divina Comédia», respondeu com o óbvio «um manual de construção de botes».

O que é que há aqui para não antecipar com entusiasmo?

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