Esta parece ser uma altura tão boa para dizer disparates como outra qualquer.
Um dos aspectos positivos de iniciativas como a do Orgulho Gay, que teve lugar na semana passada, é que nos deixam a pensar nestas coisas. Pelo que quero deixar três sugestões aos apoiantes desta causa nobre - aristocrática mesmo - que sem dúvida ajudarão à prossecução das suas metas, rumo ao objectivo final.
A ideia das passadeiras coloridas deixa-me mais dúvidas do que certezas. Eu não desejaria ver as cores da minha causa sujeitas a serem espezinhadas a toda a hora, da mesma maneira que não desejaria que houvesse papel higiénico timbrado com o símbolo do Benfica. Aliás, pela mesma ordem de razões, desejaria que houvesse papel higiénico timbrado com os símbolos do Porto e do Sporting, mas possivelmente a única marca com vontade de comercializar tal produto seria o Benfica, o que muito provavelmente daria origem a uma litigância de copyright de proporções bíblicas, condenada a arrastar-se nos tribunais por longos anos, a julgar pelo estado da Justiça em Portugal.
Este é um país em que a ideia das passadeiras coloridas poderá fazer algum sentido, dada a nossa aversão civilizacional, enquanto peões, a atravessar as estradas nos locais indicados, mas não vamos esquecer que o país está a abarrotar de turistas estrangeiros, muitos deles provenientes de países de tradição protestante, cumpridores da lei e cheios de civismo, e sim, prontos a espezinhar os símbolos LGBT pintados no asfalto. Pá, a não ser que o sado-masoquismo seja uma das orientações incluídas movimento, não se sujeitem a isto.
Tenho outra ideia bastante boa que seria estender a lógica do movimento de apoio ao Charlie Hebdo à causa LGBTQ. Adalberto Campos Fernandes já mostrou como se faz: "je suis Centeno", "somos todos Centeno". Desafio todos, no próximo Dia do Orgulho Gay, a usarem t-shirts com a frase "je suis gay", "je suis lésbica", "je suis bissexual", etc, percorrendo todas as letras da sigla. Em português, à maneira de Adalberto, também pode ser: "somos todos gays ". Que forma mais inequívoca de apoio poderá existir?
Por fim, tenho outra ideia que, pelo seu simbolismo, talvez seja a melhor das três. No Dia do Orgulho Gay do ano que vem, vamos todos substituir a palavra "etcetera" - "ETC." na sua forma abreviada - por LGBT, tanto no discurso escrito como falado.
Por exemplo, "o João foi ao supermercado, à secção da frutaria, de onde trouxe vários artigos; trouxe maçãs, laranjas, pêssegos, pêras, LGBT".
É uma boa forma de reflectir numa palavra de uso quotidiano relacionada com a ideia de diversidade, a diversidade de orientações e sensibilidades incluídas na causa LGBT.
De resto, estamos a falar de uma causa que sempre contou com o apoio incondicional do Bloco de Esquerda, um partido que não hesita em alegremente tentar fazer a governação chegar à esfera do discurso, como se em 1948, não tivesse sido escrito um livro chamado 1984, a falar precisamente deste assunto. Eles adorariam esta ideia.
O importante é que as pessoas pensem nas coisas pela própria cabeça. Eu já o fiz. E você?
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