segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Ir ver o mar, por Vergílio Ferreira

Tenho mantido na mesa de cabeceira um livro do Vergílio Ferreira que leio estritamente por necessidades soporíferas: já não consigo dormir sem ler alguma coisa antes. Cada um é como cada qual. Quando ao livro, acho-o miserável e se aquilo é filosofar ou sequer "pensar", então, de facto, a filosofia não é necessária (eu sei que é, eu sei que é). Já citei no Facebook alguns trechos, só pela curiosidade de conhecer pensamentos formulados antes de 1992.
Mas encontrei oásis naquele deserto. Neste ponto da leitura, pelo menos dois parágrafos - bastantes bons, acho eu - sobre o ritual de "ir ver mar", essa prática tão intrínseca às povoações vizinhas do Atlântico. Se formos ao farol de São Pedro de Moel e virmos uma quantidade anormal de carros para aquela altura do Inverno, sabemos que está tudo para o mesmo. Estamos a praticar o ritual. Fomos ver o mar. É das coisas menos mundanas que aquelas pessoas farão em toda a sua semana. Mesmo que simplesmente adormeçam no carro, não é que estejam a satisfazer a necessidade fisiológica só que num quarto diferente. Temos de assemelhar esse repouso, quando muito, a qualquer coisa como um crente que adormece durante a pregação, porque não quis contestar nada ou desconfiar, porque nada o distraiu e prendeu a atenção, e como tal, porque tudo estava, enfim, bem, sentiu conforto e deixou-se dormir.

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