quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Diálogo

Foi com especial curiosidade de me explicaram há algum tempo que os primeiros filósofos da Grécia antiga escreviam a sua filosofia sob a forma de diálogo. Depois, a partir de Aristóteles, predominou o ensaio.
Numa primeira impressão, isto causou estranheza, por um diálogo parecer uma coisa tão pouco "científica" - adoptar o ensaio seria uma consequência natural do progresso do pensamento. Mas à segunda impressão, surgiu a pergunta: porque é que esse método se perdeu?
Pessoalmente, a minha experiência diz que se ler um livro, vou memorizar muito mais as partes sobre as quais me imaginaria a conversar com alguém. Talvez essa seja o primeiro teste à existência de pontes com o mundo real - dá para falar deste parágrafo a outra pessoa?
Seguramente que seria um teste à inteligência de quem escreve. Porque qualquer pessoa pode enumerar uma série de factos numa prosa mais ou menos relacionados entre si, mas nem todos conseguem fazê-lo tendo em conta a percepção dos outros, e consequentemente, levantando contra si mesmo as questões que outros levantariam.
Sempre vi o conhecimento como uma coisa meio comunitária. Vai-se falando daquilo que nos enriquece, ouve-se a opinião de outros, filtra-se o lixo, ajusta-se o ritmo, e assim, cozinha-se uma espécie de "caldo do conhecimento seguro", cada vez mais rico, cada vez mais apurado.
Esquecer o diálogo na construção de opiniões é como que, numa primeira instância, desistir dos outros porque se está disposto a ficar sozinho com a Razão - até que é corajoso - mas numa segunda instância, meio caminho andado para se construir ideias altamente pessoais, abstraídas da realidade, moralmente não provadas.
Havendo sempre o risco de nos tornarmos escravos do que pensamos que os outros pensam, ainda assim parece-me acertado dizer que pessoas precisam de pessoas, nem que seja imaginadas.

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