quinta-feira, 30 de julho de 2015

Leis há muitas

Ao longo dos últimos anos, habituei-me a ouvir cristãos a reclamar para o cristianismo os méritos da revolução científica. Se os cientistas avançavam sobre a natureza com curiosidade e optimismo, é porque tinham enraizada neles a noção de um Universo ordeiro e governado por leis, o que pressupunha a existência de um Criador e Legislador do Universo. Estas leis seriam eternas e universais, ou seja, válidas em qualquer ponto do Universo, em qualquer momento da sua História.  Estas noções só são possíveis numa cosmovisão cristã, pelo que, ainda que havendo outras civilizações a alcançar grandes feitos do conhecimento, a tecnologia, das artes, etc., só no Ocidente poderia ter sido cozinhada o evento específico a que chamamos revolução científica.

Embora nos esforçássemos para colocar Deus, com justiça, na génese de algo que geralmente é consderado bom em si mesmo e benéfico para todos, também é verdade que num Universo governado por leis rígidas deixa pouco espaço para Deus se mexer à Sua vontade.

Agora, o paradigma poderá estar para mudar. Há uns tempos, li este comentário a um livro - que parece ser coisa importante - em que, entre outras coisas, defende leis do Universo variáveis ao longo do tempo. Mais uma vez, os cristãos vão ter de se reajustar e repensar as suas posições. Tem que ser, lamento. Parece-me que os cristãos vão ter de rever a importância que tem para si a ideia de um Universo perfeitamente ordenado, e se há realmente argumentos bíblicos para achar uma coisa dessas, ou se não será uma herança grega que perdurou especialmente bem disfarçada.

Não há desânimo nisto. Estes pequenos reajustes são só o sinal de que há um núcleo duro inviolável diante do qual tudo o resto pode ser posto em perspectiva. Um pouco como a ideia do autor do livro, em que por o Tempo existir realmente, é maior do que as Leis do Universo, e que como tal, vão mudando (em vez de Leis do Universo maiores do que o Tempo, em que é o Tempo que é relativo e variável, e as Leis absolutas). Mau é deixar a descoberto a cidade para ficar a defender as muralhas.

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