quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Homem por gato

No episódio de Parts Unknown em Beirut, Anthony Bourdain entrevista uma rapariga síria, refugiada prestes a ser deportada para o país de origem. Uma das perguntas foi se o conflito valia a pena; se seria um momento de sacrifício para conseguir algo melhor. A resposta da rapariga foi que a partir do momento em a luta custa vidas humanas, já foi longe de mais, concluindo com uma frase do género (estou a recorrer à memória) "nada vale mais do que uma vida humana".
A demonstrar um humanismo tão definido e determinado, imagino que a rapariga esteja a perseguir um ideal ocidental inegociável. Se conhecesse melhor o lado de cá, teria de ficar um pouco desiludida. Enquanto via o programa, lembrava-me da quantidade de pessoas que não trocaria a vida do seu cão, do gato, do piriquito ou da tartaruga, pela vida daquela rapariga. Aqui, somos existencialistas, produzimos os nossos significados e éticas particulares, e estando homens e mulheres ao leme, quem sabe onde as coisas vão parar. Por exemplo, a dignidade superior do Homem em relação à restante Criação perdeu-se. Um homem ou mulhere só são importantes se forem importantes para mim. E aquela rapariga síria dificilmente terá um estatuto desses. Pode-se lembrar ainda os casos mediáticos do sem-abrigo estendido morto no meio da rua, os dos idosos abandonados à morte pela família para confirmar a tendência.
Só por esta condição degradante, o Ocidente já merecia ser engolido por outra coisa qualquer da mesma maneira que os povos pagãos do Velho Testamento, com a sua ausência de valores e os seus sacrifícios humanos, também tinham de desaparecer.

Nem de propósito, saiu a notícia dos fins de relacionamentos por causa de animais de estimação.

Sem comentários:

Enviar um comentário